Por Dra. Jussara Marques Oliveira Marrichi
Estamos em pleno século XXI, no auge da inovação tecnológica, da realidade virtual e das transformações sociais, culturais e pessoais decorrentes de uma recente pandemia que nos assolou não só fisicamente, mas também, emocionalmente. O mundo está em constante evolução, ele não para. A natureza não nos pede licença para nos mostrar com sua força o quanto às vezes no meio do caminho, nós humanos, precisamos repensar a nossa vida e as nossas atitudes e as relações com os outros seres vivos. Mas ela também nos dá inúmeras possibilidades de viver bem e encontrar em seus braços refrigérios, saúde e paz para nossos problemas. Basta parar e observar. E provar.
Nós, mineiros, aqui do sul do nosso estado temos a nosso favor, riquíssimas fontes de águas minerais, essas que são reconhecidamente há muitos séculos validadas pela medicina termal. Quanta riqueza existe sobre nossa região, que de acordo com um dos mais respeitados geólogos brasileiros que já estudou as potencialidades terapêuticas das águas minerais do nosso país, diz tratar-se de uma das “mais raras ocorrências de paleo-geotermalismo, em um dos maiores cones vulcânicos da Terra, donde as características ambientais são únicas e de interesse como valores excepcionais universais ao patrimônio natural, cultural mundial” (LAZZERINI, 2022).
E é em meio a essa natureza espetacular, essa do início do texto que não pede, mas empresta, que temos a oportunidade de vivenciar e praticar uma das formas mais antigas de cuidados corporais através das águas quentes: o Termalismo. E aqui, nesse raro cone vulcânico, encontramos uma agradável e hospitaleira cidade chamada Caldas que abriga em um bairro muito especial, o Balneário de Pocinhos do Rio Verde. É nesse lugar repleto de história e muita ambiência termal que temos a oportunidade de mergulhar em suas águas alcalino-sulfurosas, radioativas e bicarbonatadas sódicas e desfrutar dos seus benefícios físicos, emocionais e espirituais. Basta subir a serra e logo estaremos em Poços de Caldas, com suas águas sulfurosas hipertermias e sua vida jamais agitada, cosmopolita. Ambas possuem características próprias, cada qual tem o seu valor e juntas representam uma história nacional secular de muita saúde, medicina, lazer, cultura e turismo.
O conceito de Termalismo muito evoluiu ao longo dos séculos, do simples uso das águas quentes na sua forma mais genuína de encontro corporal (a imersão em suas águas) hoje diz respeito a toda ambiência termal e ao uso de outros fatores naturais terapêuticos a saber, como as argilas, os íons negativos do ar, as algas, as emanações radioativas, as areais das praias, enfim… são muitos recursos e saber usá-los faz toda a diferença quando pensamos em tratamentos termais. E a esse respeito, quando digo tratamento termal, vale reforçar o quanto as águas da nossa região são eficazes em determinadas patologias: musculoesqueléticas, respiratórias, gastrointestinais e dermatológicas. É diante da sua composição físico-química, do seu pH, da sua temperatura e de outras componentes bioativos que esses tratamentos são montados diante da queixa principal e da técnica a ser ofertada. Mas não se enganem, as águas não curam tudo. Não são milagrosas. São revestidas de ciência e como tal, precisam de seus doutores, os médicos termais, para que sua ação seja respeitada e garantida, ação que estende inclusive, nas áreas do bem-estar e da estética termal.
Hoje lhes convido a uma reflexão: estamos cuidando corretamente dessa natureza tão forte e, ao mesmo tempo tão gentil conosco nesse sentido? Se a mãe natureza nos chama a atenção quando algo não está bem, é ela também que nos abraça em seu colo, dando em carinho, aquilo que mais precisamos em determinado momento. Para encerrar este texto, e antes de agradecer o convite para escrever estas poucas palavras, quero reforçar o quanto as cidades termais e seus balneários foram importantes no processo de retomada de vida pós lockdow que passamos recentemente, afinal, foram suas águas, lugares e técnicas que ajudaram centenas de pessoas nas sequelas pós-covid, e continuam ajudando, e por assim ser, foram chamadas de importantes centros sanitários pelos maiores especialistas em medicina termal desse século. Vale a reflexão, a experiência, o cuidado, o respeito, o conhecimento e a divulgação da nossa rara região!!!
É Coordenadora de projetos termais do Balneário de Pocinhos do Rio Verde em Caldas/MG